BRASÍLIA – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) criticou, nesta terça-feira (10), em depoimento ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, as atribuições de que o domingo de 8 de janeiro tenha sido uma tentativa de golpe de Estado liderada por ele em 2023.
Principal réu no inquérito que o investiga por tentativa de tomada de poder à força para se perpetuar na Presidência da República, mesmo derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 30 de outubro de 2022, Bolsonaro tratou como exagero o tratamento do caso e às penalidades atribuídas a quem já foi julgado pelos atos.
“Fico até arrepiado quando se fala que o 8 de janeiro foi [um] golpe. Mil e quinhentas pessoas [presas], uns pobres coitados. Cem ônibus chegaram no setor militar urbano. Esse pessoal foi embora logo depois da baderna. Aquilo não é golpe, não foi encontrada uma arma de fogo”, alegou Bolsonaro.
“O sr. me desculpe, seu ministro, mas eu não consigo entender certas penas para as pessoas que não sabiam o que estavam fazendo naquele momento”, disse depois, referindo-se aos julgados e condenados por invasão e depredação dos edifícios-sede dos Três Poderes.
Das 1586 ações penais abertas do STF em razão dos atos de 8 de janeiro de 2023 – 487 por crimes graves e 1099 por crimes menos graves –, 497 pessoas foram condenadas, sendo 256 por crimes graves e 249 por crimes menos graves. Até a data de publicação desta reportagem, oito processados foram absolvidos.
Bolsonaro nega ter recebido apoio das tropas da Marinha pelo general Garnier
Ainda durante o depoimento, o ex-presidente Jair Bolsonaro negou a declaração do ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB) Batista Júnior de que o ex-comandante da Marinha tenha colocado suas tropas à disposição do governo no caso de uma possível tomada de poder à força.
"Não existe isso. Se fôssemos prosseguir no estado de sítio ou de defesa, as medidas seriam outras, na ponta da linha, outras instituições envolvidas. Não tinha clima, não tinha oportunidade, não tínhamos base minimamente sólida para fazer qualquer coisa. Só foi conversado hipóteses constitucionais, tendo em vista o TSE ter fechado as portas pra gente, com aquela multa”, disse, referindo-se ao pagamento de R$ 22 milhões impostos ao Partido Liberal, do qual é presidente de honra.
Bolsonaro ainda pediu a Moraes, que foi presidente do Tribunal Superior Eleitoral, para que a penalidade fosse revista.
“Espero que um dia vossa excelência possa reconsiderar. Está fazendo muita falta para o partido”, disse a Moraes, ao que o ministro respondeu. “Transitou em julgado porque o plenário do TSE confirmou”, encerrou.